Tenho uma tradição de aniversário com minhas filhas: não fazemos festa, mas temos o dia do desejo realizado. Basicamente, pela grande proeza de permanecerem vivas por mais um ano, no dia do aniversário, cada uma delas se transforma na Mega Uber Rainha Universal do Mundo Mundial e tem seus desejos atendidos. Claro, dentro dos parâmetros legais, constitucionais e financeiros.
Se não é contra a lei, se não atenta contra a Constituição e
se eu posso pagar, elas têm.
É aniversário, sim, mas já serve como aula de Educação
Moral, Cívica e Financeira, tudo junto.
Elas adoram.
Em geral, não traz grandes prejuízos, eu passo horas cozinhando
tudo o que elas podem imaginar que querem comer; depois, nós passamos a semana
inteira vivendo de sobras.
Mas aí existe a minha filha mais nova. Acho que a maior frustração
da vida dela é ter nascido hmm... fofa. Sério. Ela é miúda, esguia, tem mãos
pequenas de dedos longos com unhas que ela gosta de manter compridas; os
cabelos também são compridos, e Deus te ajude se você sugerir “tirar as
pontinhas”. Tudo nela grita Princesinha da Disney. E ela odeia. Ela quer ser
malvada, quer ser o Grinch, o Hannibal Lecter, o bicho-papão. Mas a gente olha
pra ela e pensa “Ownnn, mo deuso, que coisa querida! Olha como ela fica linda
quando tá brava!”
Claro que a personalidade da mocinha nada tem a ver com as
princesas da Disney ou de qualquer outro reino conhecido, mesmo que o máximo de
rebelião percebida em sua arte seja os desenhos de gatinhos fofos com dentes e enormes
e chifres pontudos. Sim. Até os desenhos dela são malvados e fofos ao mesmo
tempo.
Para tentar ficar menos fofinha, ano passado ela “goticou”,
entrou numa de vestir preto e, no dia Mega Uber Rainha Universal do Mundo
Mundial, ela pediu um soco-inglês, que a louca da mãe dela deu, juntamente com
batom preto, esmalte preto, e uma camiseta preta de estampa perturbadora; de
quebra, ainda levou um tabuleiro Ouija (que nós vamos usar para nos comunicarmos
com o Espírito do Natal este ano) e um diabinho vermelho de pelúcia, que ela diz
que é uma vaca e se chama Davi, presentes de um casal de amigos meus.
Este ano ela relaxou no gótico — mesmo que durma com Davi todas
as noites e coloque o soco-inglês embaixo do travesseiro sempre que escuta um
barulho estranho na casa —, então eu pensei que não precisaria pensar em nada
tão perturbador como outra arma branca para minha filha de 14 anos.
Tava sossegada, pensando que eu só precisaria cozinhar,
quando ela decidiu que queria comer...
Preparem-se...
Um escorpião
Isso mesmo
No dia do dia mais mega-ubérico do ano, ela só quer comer um
escorpião.
Depois de engolir a minha bílis, eu falei que tava fora do
orçamento, ela perguntou o porquê, e eu respondi que não tinha dinheiro para
pagar a viagem até a China, então ela suavizou os padrões: podia ser outro
inseto, outra comida esquisita qualquer, só tinha que ser diferente.
O meio-termo: gafanhotos.
E eu pensei: ok, eles estão invadindo o país mesmo. Estão
vindo aos montes da Argentina. Gafanhoto com sotaque espanhol. Por que não?
Nunca fiquei tão feliz por conhecer tanta gente.
Meus amigos se empenharam na missão. Teve gente que mandou
receita de gafanhoto, teve gente que me recomendou farofa de formiga, teve
gente que conhecia um cara, que conhecia um cara, que tinha um primo que criava
larvas para pratos exóticos. Chegou num ponto que até eu já queria comer aquilo
lá.
Planejei até as fotos para o Instagram: “olha que mãe
excelente eu sou: assei um bicho nojento pra minha filha comer”.
Cardápio feito, insetos e larvas providenciados, juntamos
tudo no carro de um amigo argentino que estava vindo passar uma temporada nas
praias catarinenses. E eu aqui, toda pimpona pensando: “Eu não acredito que deu
certo!”
É... não deu...
No meio do caminho tinha uma polícia rodoviária; tinha uma
polícia rodoviária no meio do caminho.
Cêis acreditam que precisa de autorização pra transportar
inseto???
Bom... talvez se os insetos tivessem sidos abatidos antes não
houvesse problema, mas os pobres estavam confinados em garrafas e vivinhos da
silva. Não entraram no estado.
Quando meu amigo ligou avisando que a carga havia sido
apreendida, eu dirigi até o posto de polícia mais próximo de mim pra tentar uma
comunicação, tentar pedir pelo amor paternal, rogar pelo espírito natalino,
qualquer coisa.
A cara do policial quando eu expliquei que aqueles insetos
eram o presente de aniversário da minha filha não teve preço.
Sério.
No fim, eu acho que ele pensou que ninguém inventaria uma
história tão ridícula, e realmente tentou me ajudar a recuperar o contrabando,
mas não teve jeito. Meus bichinhos provavelmente foram incinerados e agora
estão no céu dos insetos denunciando meu karma que está prejudicado pelos
próximos 15 anos.
Este ano, não vou conseguir cumprir minha missão.
Contei pra ela o que havia acontecido e pedi um plano
alternativo, e ela se contentou com cozinha estrangeira. De novo o diferente.
Vamos de festa mexicana.
E lá fui eu de novo. Tenho incontáveis receitas de tortillas
de todas as mães de amigos que fazem a melhor tortilla do mundo. Juro, todas as
receitas são iguais, então quando for dar o retorno vou poder dizer satisfeita:
“sim, eu escolhi a da tua mãe, você tinha razão, é a melhor”; os tamales já vão
ser mais complicados. Minha geladeira está apinhada de pimenta e, se tudo der
certo, vai ter copinho de tequila cheio de guaraná Kuat para a experiência completa.
Só me falta o abacate para a guacamole, o sombreiro (que eu já desisti de
conseguir) e, claro, a piñata.
Não existe aniversário mexicano sem piñata.
Dessas eu também recebi muitas receitas de como fazer, e
agora estou aqui, com um balão gigantesco que é a base da coisa.
O problema
Não riam...
Eu tenho medo de balões.
Tá... podem rir.
Não sei o que é, me dá agonia, eu vou enchendo e parece que
meu medo vai se inflando junto, começa a me bater um desespero de que aquilo
vai explodir na minha cara... eu não consigo... simplesmente não consigo.
Meu nome é Betti Pellizzer, e eu tenho medo de balões
coloridos.
O aniversário dela é dia 28, então eu tenho cinco dias para
fazer a tal piñata, por isso, logicamente, estou aqui escrevendo textinho pro Facebook
em vez de ir até a casa vizinha e implorar que alguém encha um balão pra mim.
Imagina a marmanja aqui, chegando com um balão rosa na mão,
pedindo pra encher porque ele me dá medo... Pois é...
Ser mãe é dureza...
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