
Estava aqui folheando minha agenda — sim, sou dessas que ainda usa agenda de papel, com folhas reais que amassam e, vez ou outra, caem da espiral como quem desiste da vida — e fui tomada por um pensamento meio bléh.
Estamos em outubro.
It's fucking outubrooooo!
Dezembro já está ali na esquina, cutucando e perguntando se estou pronta para ele.
Olhando para a agenda, com a parte usada bem maior que a parte em branco, bateu aquela nostalgia.
Me lembrei exatamente de quando comprei essa agenda. Foi em Laurentino, eu estava morando sofá do Leo, meio que sem um chão pra chamar de meu, agarrada ao trabalho como se fosse meu bote salva-vidas.
Naquele momento, minha maior preocupação era resolver o "agora". Sem pensar muito no fim do ano ou em como eu estaria, eu só sabia que precisava seguir.
Mais um dia.
Mais uma hora.
Então, quando vi a agenda na prateleira, não escolhi porque era bonita ou porque tinha espaço suficiente para minhas ideias malucas e listas de afazeres intermináveis.
Escolhi pelo preço.
Era barata.
Ponto.
Agora, ela está aqui, meio torta de tanto uso, com folhas que já viram dias melhores. A agenda barata virou parte da minha rotina. Parte de mim porque, juntamente com meu laptop e meu telefone, é usada todos os dias.
Cada abençoado dia.
E eu me apeguei a ela.
E isso me fez pensar: será que me acostumei tanto com esse “desconforto” que ele já virou meu novo normal? Será que, sem perceber, estou aceitando uma versão da vida que não escolhi de verdade, mas que, aos poucos, se tornou cômoda?
Isso me assusta pra ser sincera. Não quero me acomodar ao desconforto. Mas, ao mesmo tempo, tenho que admitir: quando a gente se acomoda e aceita o que vem, mesmo no desconforto, tudo parece... mais confortável. Estranho, né?
Sabe aquele sapato que no começo aperta e machuca, mas depois de um tempo você meio que se acostuma com a dor? E aí, ele se molda ao seu pé (ou seria o contrário?). No final, você até esquece que está apertando. Só lembra quando tira e sente o alívio.
Pois é, será que essa agenda barata é meu sapato apertado? Será que estou me moldando a uma vida que não quero, só porque “é o que tem pra hoje”?
Eu sei que não quero passar o resto dos meus dias nesse sofá da vida. Não quero me convencer de que está tudo bem só porque "poderia ser pior". A vida pode ser muito mais que isso, e acho que essa agenda desengonçada está aqui pra me lembrar disso. Ela cumpriu seu papel, literalmente, mas talvez eu precise de uma nova no próximo ano — uma que eu escolha de verdade, com carinho, com propósito. E quem sabe essa nova agenda me ajude a lembrar que a vida também precisa ser escolhida, não só aceita.
Enquanto isso, seguimos em frente, desconfortável, mas consciente. Porque, às vezes, o maior conforto é justamente sair do desconforto.
Eu tô fazendo sentido?
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